A pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Solange Ikeda alertou sobre o risco de escassez de água no Pantanal, caso seja sancionado o Projeto de Lei 561/2022, que autoriza instalação de empreendimentos de impacto ao bioma, para atividades de turismo e pecuária extensiva.
O projeto de autoria da Comissão de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Recursos Minerais, presidida pelo deputado estadual Carlos Avallone (PSDB) mesmo com críticas de ambientalistas já foi aprovado em primeira votação e deve retornar à pauta de votação da Casa de Leis nesta semana.
Segundo Ikeda, é preciso ter compreensão de que o Pantanal é uma área úmida e interferir no entorno do bioma significa o fim da área alagada ou o fim do Pantanal. Ela alertou que “mudar a forma da pecuária, vem agrotóxico junto, vem mudança de manejo e perda da área úmida.”
Ou mantemos o Pantanal como área úmida ou não temos Pantanal
“Essa compreensão que o Pantanal é área úmida, a área úmida só existe se existe o entorno. A água vem do Planalto, ela não vai brotar no pantanal. Só existe Pantanal, porque existe a parte alta que traz água para cá, mas o inverso pode acontecer. Apesar de não brotar a água aqui nós podemos acabar com a água que temos, que é o que está colocado nessa lei, porque se está colocado empreendimento, aí pode ser considerado hidrovia, a hidrovia nessa parte alta aqui, de Cáceres a Corumbá pode levar a água embora desse Pantanal”, alertou a pesquisadora.
Ela explica que o Pantanal funciona como uma esponja que só existe se existe o entorno. “Um Pantanal que funciona como uma esponja, pode escoar a água lentamente, pode perder totalmente essa água. Essa água faltará lá para pastagem, toda biodiversidade do Pantanal que é regida pelo fluxo de inundação. Só terá murundus, só terá Capão, só terá campo alagável de acordo com que é o pulso de inundação.”
Para a pesquisadora, mudar a pastagem do Pantanal para o formato tradicional como previsto na proposta significa o fim da área alagável. “Esta pastagem não vai funcionar na área úmida, porque essa área vai alagar, só se a gente tiver querendo mudar esse sistema. Caso isso aconteça, perderemos esse Pantanal como área úmida.”
Ela reconheceu as questões de falta de estrutura, porém, avalia que o foco está errado. Em seu entendimento, ela avalia que os fazendeiros podem inclusive perder financiamentos por conta da falta de proteção ao Pantanal. “A causa está relacionada a um outro processo de políticas públicas, que incentivem essa produção de carne, mas na área úmida. Vou falar aqui para o deputado Wilson Santos, não tem como, não vai ter Bid Pantanal se aprovar uma lei que não dá sustentabilidade.”
Sem a área úmida do Pantanal, a pesquisadora prevê que a discussão no período de seca – setembro e outubro – será como “furar poços ou como rezar para chover”.
“Vamos precisar de água para o gado, para agricultura, para as comunidades, porque a realidade é essa aqui. Esse ano, temos mais seca que 2020”, destacou a pesquisadora lembrando a necessidade de todos ficarem do mesmo lado para evitar a falta de água” conclui.
Fonte: Vgn Notícias