Mais de 361 mil pessoas vivem sem acesso a uma moradia digna em Mato Grosso. No Estado, o deficit habitacional alcança mais de 140 mil famílias que não têm acesso a uma habitação segura e de qualidade. Os dados são da Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania (SetascMT) que apontam ainda que os números representam 27% das pessoas inscritas no Cadastro Único. Em Cuiabá, são mais 91 mil famílias nessa situação.
No país onde a habitação é um dos direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal, basta passar por regiões periféricas das cidades, como na capital mato-grossense, para constatar a distância entre a lei e a realidade. Quando pensamos em deficit habitacional, pensamos apenas em famílias sem casa.
O deficit habitacional vai além das famílias que não possuem um teto e abrange também moradias em situações precárias como casas improvisadas, cômodos e também as famílias que enfrentam os valores excessivos de aluguéis.
Em Cuiabá, assim como em outras capitais, a falta de empenho em colocar em prática políticas de habitação já existentes tem levado cada vez mais pessoas a invasões de terrenos públicos, privados e áreas verdes formando assim aglomerados de moradias em vulnerabilidade social onde as famílias vivem a luta pela casa própria. No bairro Ubirajara, por exemplo, mulheres, idosos, pessoas com deficiência dividem um espaço particular invadido em um amontoado de barracas de lona e resto de materiais.
A área, que é alvo de processo judicial, na última semana teve parte dos barracos destruídos, após uma decisão de reintegração de posse. Durante a ação, a defesa das famílias conseguiu suspender a reintegração por mais tempo, mas antes disso muitas famílias assistiram com tristeza suas casas ruírem em poucos segundos.
Lucila Vicente Krauze, 67, em pé ao lado de suas coisas e apontando para os destroços que restaram no local lamenta a situação. “Aqui era tudo que eu tinha. Minha vida inteira morando de favor com as pessoas, quando pensei que tinha conseguido realizar esse sonho, tudo foi destruído”.
O barraco era uma peça pequena, sem divisão, onde ela e o filho, que é alcoólatra e sofre de problemas de ordem mental, moravam. “Agora não tenho para onde ir, vou ter que pedir abrigo a parentes que também são apertados”.
Assim como ela, Auteliza Cavalcante de Oliveira, 44, teve também seu barraco derrubado. Ela que morava no local com o marido e mais 4 filhos, todos menores de idade, lembra dos sonhos e da luta para construir sua “casa”. “Carregamos tudo aqui na cabeça, nas costas. Levantamos com materiais doados ou que achávamos. Aqui tinha o nosso suor e é triste saber que em segundo derrubaram tudo”. Agora ela conta que a família deve se abrigar na casa da sogra até conseguir levantar novamente o local.
Em meio à pandemia da covid-19, em plena campanha “fique em casa”, que acontecia em um momento onde a economia era afetada, Nayara de Souza Moura, 21, era despejada de sua casa por não conseguir mais pagar o aluguel. “Já estava difícil para gente, antes da pandemia, honrar com o valor, mas depois ficou impossível”, lembra. Ela, que está grávida, o marido e outras 3 crianças moram desde então em um barraco improvisado na região do bairro Ouro Fino. O próprio marido foi quem levantou o barraco de um único cômodo. “Se eu sair daqui não sei para onde vamos, só temos isso aqui”.
Fonte: Gazeta Digital