“Era melhor eu ter vindo com uma arma”. Este foi o comentário do motorista de aplicativo à reportagem do UOL Esporte, misturando bom humor e receio quando chegou ao abandonado terreno do Centro Oficial de Treinamento Barra do Pari, previsto para um dia se transformar em pequeno estádio que receberia treinamentos das seleções no Mundial de 2014 em Cuiabá (MT). Ao invés de um complexo esportivo, o que se vê é um local tomado por bichos peçonhentos, um denso matagal, ferros retorcidos e estruturas abandonadas à própria sorte, que sofreram constantes furtos ao longo do tempo.
A cerca de dez quilômetros dali e também num cenário meio “The Walking Dead” (série sobre um apocalipse zumbi) se encontra outro rastro da “herança maldita” da Copa do Mundo, e o que mais trouxe prejuízo e revolta: os incontáveis trens do fracassado projeto de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), prometido para ser entregue em 2013 e que, ao custo de mais de R$ 1 bilhão até aqui e sob denúncias de corrupção, não chegou nem a 50% de conclusão, não sem antes de transformar a capital mato-grossense em um verdadeiro canteiro de obras, com suas estações e trilhos inacabados cortando a gigante avenida.
Passados sete anos, muito se fala e se promete, em meio a projetos retomados, redefinidos, em estágio inicial de execução e alguns poucos concluídos. No meio disso, Cuiabá volta a abrir suas portas para o futebol mundial sendo sede da Copa América, longe do “glamour” de outrora, e com a população calejada das literais cicatrizes urbanas deixadas pelo Mundial da Fifa.
Imagem: Edson Rodrigues
Secopa