Depois de começar novembro a R$ 5,74, o dólar+0,15% iniciou um forte movimento de queda e encerrou o pregão de segunda-feira (7) cotado a R$ 5,12 – desvalorização de 10,80% em 38 dias. O deslocamento da moeda continua em dezembro: o patamar atual é o menor desde 22 de julho, quando o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,11.
Alguns fatores externos e internos explicam este cenário. Em escala global, a confirmação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial americana tirou grande parte da tensão do mercado global e aumentou o apetite ao risco de investidores. Com isso, houve uma busca forte dos estrangeiros por mercados emergentes ainda descontados, mas que possuem boas perspectivas.
Já no ambiente doméstico, o Brasil sinalizou avanço nas reformas, privatizações e manutenção do teto de gastos, o que mostrou controle nos gastos públicos do País e impulsionou ainda mais o fluxo positivo de capital internacional na bolsa local.
Neste cenário, a bolsa brasileira ficou entre as que mais receberam aportes em dólar. Segundo dados da B3 de novembro, o saldo de investimento estrangeiro foi positivo em R$ 31,5 bilhões, valor recorde na contagem mensal desde o início da série histórica, em 1995.
Na prática, como a oferta de dólar no País aumentou, o preço recua. “Quanto mais moeda americana temos dentro do Brasil, menor é a sua cotação”, diz Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos.
Dólar a R$3,80 em 2021?
Para especialistas do mercado consultados pelo E-Investidor, o saldo de investimento estrangeiro deve continuar positivo até o final de dezembro – até o dia 3, o montante era de R$ 2,616 bilhões. Ao que tudo indica, a moeda americana deve continuar perdendo força frente ao real. “É factível o dólar chegar na casa dos R$ 4 em virtude do forte fluxo de entrada no País”, diz Madruga.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora de Câmbio, projeta que a cotação pode chegar até R$ 4,80 ainda neste ano se o Brasil encaminhar as reformas e as privatizações. E vai além. Segundo ele, a moeda americana pode cair até R$ 3,80 em 2021. “Isso só será possível com o controle total da pandemia e das contas públicas”, diz.
Contudo, é importante ressaltar que o cenário ainda é incerto e não está descartada a possibilidade do dólar voltar a subir. Além da insegurança em relação a efetividade das vacinas contra a covid-19, há grande instabilidade do lado do governo em manter a agenda reformista.
“O movimento atual foi mais relacionado a investidores buscando ativos de risco do que a uma efetiva melhora do cenário brasileiro”, afirma William Alves, estrategista chefe da Avenue Securities.
Efeito nos investimentos
Com a forte queda do dólar, todos os investimentos com receitas atreladas à moeda tendem a cair. Afinal, quanto menor a cotação, menor será o retorno financeiro. Na B3, as ações mais afetadas são as de empresas exportadoras, como as dos setores de commodities, frigoríficos e papel e celulose.
Até 7 de dezembro, enquanto o IBOV subia 4,31%, aos 113.589,77, Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3), BRF (BRFS3), Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3) registravam desvalorização de 0,20% até 6,64%.
O único segmento que tem resistido é o de commodities, pois a demanda pelos produtos está em alta e o preço também subiu nos últimos dias, o que anulou a queda do dólar. Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), por exemplo, sobem 6,35%, a R$ 82,95, e 8,43%, a R$ 27, respectivamente.
Na outra ponta, aplicações beneficiadas pela queda do dólar são aquelas que têm seus custos atrelados à moeda americana. No Ibovespa, o principal exemplo fica com as companhias aéreas.
Até o fim da sessão de segunda (7), GOL (GOLL4) e Azul (AZUL4) registravam valorização, em ordem, de 18,79%, a R$ 27,94, e 10,18%, a R$ 41,89. “A receita dessas empresas é em reais, mas os custos para manter a frota são todos em dólares”, afirma Madruga, da Monte Bravo, salientando que, além da recuperação da demanda por voos, a baixa do dólar também impulsiona os ativos do segmento.
Fonte: Estadão